Pensamentos
A dúvida o acompanhava
enquanto virava a esquina.
Deu com um bueiro aberto,
sem tampa, e parou na hora.
Escapou por um triz! Mais
à frente, não
conseguiu escapar de um coco
de cachorro. Esfregou o sapato
na calçada. Seria sorte
ou azar?
Continuava pensando nela.
Estava tão diferente,
ultimamente. Parecia que lhe
era indiferente estar com
ele ou não. Estava
distante, ele lhe perguntava
alguma coisa e ela nem percebia.
Ou, então, ele estava
contando um caso bem interessante
e notava que ela estava olhando
para a paisagem, lá
fora, pela janela. E as conversas?
Estava interessada em outros
assuntos, tão diferentes
dos que costumavam conversar.
Ou, então, trocava
de assunto, assim, de repente;
se bem que nesse ponto até
que não mudara muito...
O que estava acontecendo?
Estaria interessada em outro
homem? Se fosse, ia ser muito
duro para ele. Estavam juntos
há tanto tempo. Amavam-se?
De certa forma, sim. Do jeito
deles, sem grandes arroubos,
sem grandes festas. Mas, havia
um sentimento imanente, difícil
de descrever. Haviam passado
por tantos momentos difíceis
juntos, que haviam formado
um laço, que, pensava
ele, seria indestrutível.
Seria?
Os beijos já não
eram tão quentes...
Que coisa, hein?
Estava se aproximando de casa.
Mais alguns quarteirões
e chegaria.
E se desse uma parada em um
bar? Só para lhe despertar
o ciúme. Como ela reagiria?
Seria um tipo de um teste...
Mas que besteira! Como é
que estava pensando em uma
tolice desse tipo?
Já estava no seu quarteirão.
Aproximou-se da garagem, abriu
o portão com o controle,
estacionou o carro. Entrou
no elevador, chegou ao seu
andar. Caminhou pelo corredor,
chegou em frente à
porta do seu apartamento.
Colocou a chave na fechadura,
abriu a porta e entrou. Tudo
calmo, um silêncio...
Anos atrás, ouviria
o som da televisão
ligada, com seus filhos assistindo,
atentos, a um dos seus programas
preferidos. Agora, já
estavam, cada um deles em
seu próprio lar, cuidando
das suas famílias.
Menos mal, pelo menos, nenhum
deles seguira pelo mau caminho.
Eram todos "gente boa",
como se costuma dizer, como,
aliás, ele mesmo, e
sua esposa também o
eram. Levavam uma vida pacata,
cuidando dos seus afazeres,
sem incomodar a ninguém.
Ele sempre ganhara a vida
honestamente, e ela também.
Mas, o tempo passa, e, pouco
a pouco, as situações
vão mudando. Não
mudam da "água
para o vinho", mas mudam...
Atravessou a área de
serviço, a cozinha,
foi até à sala.
Onde estava ela? Caminhou
pelo corredor, chegou até
a porta do seu quarto.
Oi, Clara! Ele chamou-a, ela
não respondeu. Estava
com os olhos fechados, o quarto
na penumbra. Ficou observando-a
por alguns minutos. Ainda
conservava alguns traços
da sua beleza. E, com ele?
Acontecera o mesmo?
Achou melhor não acordá-la.
Foi para o seu lado da cama,
tirou os sapatos, calmamente,
calçou os chinelos.
Trocou as suas roupas pelas
caseiras, sentiu-se bem mais
a vontade. Respirou fundo
e pensou nos acontecimentos
do dia. Ainda tinha um bom
reflexo, lembrou-se do bueiro
aberto. E se... nem é
bom pensar!
Lembrou-se que havia comprado
um livro. Onde estava? Ah,
estava ali, próximo
do jornal. Acendeu a luz do
abajur, e começou a
folheá-lo. Em poucos
minutos, estava mergulhado
na sua leitura, esquecido
de tudo o mais.
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