Eu
Mergulhei numa Fresta
Eu mergulhei numa fresta do
espaço-tempo, e me
deparei com um longo saguão,
que se perdia de vista e,
ao meu lado, uma recepção,
como de um hotel, na qual
o recepcionista era um sapo
verde, bem trajado e simpático.
Havia outras tantas recepções
semelhantes, com recepcionistas
semelhantes, que se sucediam
pelo longo saguão afora,
a se perderem de vista. Tentei,
por um instante, imaginar
aonde estas recepções
conduziriam os hóspedes,
mas desisti. Elas ali estavam...
e pronto.
Enxerguei também miríades
de pontos luminosos, que brilhavam
com intensidade. Em conjunto,
eles se dirigiam à
trevas compactas; se encontraram,
eles ingressaram dentro delas.
As trevas como que cresceram
de volume, e mudaram de tonalidade...
mas continuaram sendo elas
próprias, assim como
os pontos luminosos. Pensei
em uma analogia conosco, seres
humanos: há em nós
esses pontos de luz, junto
com nossas trevas. Podemos
encontrá-los, se os
procurarmos, profundamente,
e iluminaremos nossas trevas,
por algum tempo. Se nos iluminaremos
por completo? Talvez nunca.
Mas precisamos dessas iluminações
momentâneas, nos fazem
bem, e nos conectamos brevemente
com uma grande rede de luz,
formada por muitos outros
que também fazem o
mesmo, e pelos Seres de Luz,
que há em dimensões
alhures. É pouco? E
é muito.
Mudando de alhos para bugalhos:
estou lendo ‘Carne Trêmula’,
da escritora inglesa Ruth
Rendell: me surpreendeu, que
fluência! Nem me lembro
mais do filme de Almodóvar,
baseado no livro (aliás,
nem sei mesmo se o assisti),
mas o livro é, de fato,
excelente.
Schopenhauer, em seu livro
‘A Arte de Escrever’, defende
bravamente os diletantes,
em uma linha de pensamento
diametralmente oposta à
que segue o seu curso nos
dias de hoje. Ele demole,
pedra sobre pedra, grandes
filósofos e a erudição,
germânica, em particular,
e européia, em geral.
Que beleza seria se muitos,
hoje em dia, se dessem ao
trabalho de tentar seguir,
pelos menos, alguns dos conselhos
do velho mestre.
Estou com um livro de poemas
‘no prelo’, por assim dizer:
dentro de alguns meses estará
a venda. Tiragem: 1.000 exemplares.
É o meu segundo livro,
mas o primeiro, ‘Os Homens
Pássaros’, teve uma
tiragem minúscula.
Este se chamará ‘Numa
Floresta de Símbolos’.
Aguardem!
Abilio
Terra Junior
27/04/2010